quinta-feira, novembro 11

Bons palhaços escrevem bem

A expressão “palhaço” no nosso país adota o sentido conotativo de alguém que não leva com a seriedade necessária assuntos relevantes, remete à pessoa sem conteúdo, desprovida de capacidade intelectual e emocional para o exercício do que se propõe.

Bem diferente é aquele palhaço do sentido literal, com nariz vermelho, sapatos maiores que os pés, roupas coloridas e um bom humor até no choro. Os palhaços literais pegam temas de fundamental importância, tiram sarro dele, e nos fazem pensar no assunto. Outros simplesmente têm por objetivo de vida fazerem as pessoas sorrirem. Não querem nada além de divertir, provocar, tirar o receptor do lugar-comum.

Na imprensa tupiniquim, ambos têm lugar de destaque nos últimos dias. A primeira classe, largamente representada, tem por palhaço-mor Augusto Nunes. O garoto de ouro da Editora Abril é um daqueles que não tem senso crítico na hora de escrever. Não mede suas insanidades, apenas publica, misturando ficção com jornalismo, e apresentando ao leitor como a fiel descrição dos fatos. Esse é o comportamento padrão da classe: sob o argumento de liberdade de imprensa, defende interesses terceiros, que não os de bem informar, na defesa de sua posição ideológica.

Os palhaços conotativos ignoram a consulta a variadas fontes e necessidade de ter bons informantes – eles acham que são as próprias fontes. Incorrem assim em um erro crasso para suas existências, a limitação de público leitor, pois só lê aqueles absurdos quem, como eu, tem críticas a eles, ou quem já sofre de profundas insanidades. O objetivo de quem escreve não é a popularidade ou a fama. O número de leitores não é indicador da qualidade do trabalho. Entretanto, devem ser compromisso do ‘informador’ dois fatores que dizem respeito à amplitude: a verdade deve estar presente em todo o fato descrito e, quando assim o for, o fato descrito deve chegar ao maior número de pessoas possível.

A segunda classe dispensa apresentações, todos conhecemos. Apesar das máscaras, maquiagens e narizes vermelhos, a principal marca dos palhaços literais é a honestidade, simplicidade e compromisso com uma verdade crucial: criticar, escancarar tristes realidades da nossa sociedade, e ainda assim fazer sorrir. Foi exatamente o que fez Francisco Everardo Oliveira Silva quando lançou seu personagem, o palhaço Tiririca, ao pleito por uma vaga na Câmara dos Deputados. Um milhão e trezentas mil pessoas preferiram o humor e a sátira na hora de escolherem seu representante como Deputado Federal. Não foi apenas um voto de protesto: foi a escolha por um novo caminho político, o que viu que a cara fechada, o jeito sisudo, estão distantes do povo brasileiro de sorriso no rosto.

Não adianta Augusto Nunes cobrar bons modos e finesse dos brasileiros, pois isso só agrada aos olhos de fora. Sigamos com o bom humor, com os clowns fantasiados ou não, alfabetizados ou não. O Congresso quer bons projetos e ações. Aos bons redatores, deixamos os circos como a Veja, de Nunes.

Atualizando em 12/11, 18h15, depois de notícia do Portal R7 (http://bit.ly/b0Csq2):
Agora, um promotor de justiça pede novos testes sobre a alfabetização de Tiririca. Foi o mesmo que pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário do palhaço literal. Se ou não ser alfabetizado depende agora, segundo o promotor, das condições financeiras do cidadão. Tem tantos outros no Congresso que, sabendo ler e escrever com perfeição, só envergonham a seus eleitores. A quem interessa a cassação do diploma de Francisco Everardo Oliveira Silva?

Um comentário:

  1. É isso que precisamos pessoas inteligentes, com opiniões inteligentes sem medo de manifesta-lás

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