sábado, novembro 13

Madrugando

Acordar às 5 da manhã, e às vezes nem dormir, pela insônia, tem virado hábito. O mais estranho é que não reclamo: tenho produzido mais, escrevido, minhas idéias fluem, e pessoas interessantes ficam acordadas comigo. O que me chama a atenção é que o ser humano parece ter um inibidor de vontades que funciona até o som se pôr. Depois disso, tudo é mais facilmente realizado, as palavras saem soltas da boca, os desejos ficam manifestos na testa.

Outra coisa interessante é que determinados fatos só acontecem na madrugada. Já parou pra ouvir as histórias dos taxistas que trabalham entre meia-noite e 6 da matina? Esses dias, ouvi a história de um que juntou um grupo de colegas para "abarrancar" uma das vacas da Cow Parade. Pra quem não é do interior, eu explico: "abarrancar" é um hábito comum onde relações sexuais são raras ou caras, e onde as sociedades são machistas demais para aceitar homossexualidade. Aqui nos pampas, os ginetes jamais se imaginariam encenando Brokeback Mountain. Aí, o que aparece pela frente vai pro barranco: vacas, éguas, e outros bichinhos que a altura dispensa o barranco, como galinhas, cabras, enfim, deu pra entender, né?

Então, esse taxista juntou um grupo de colegas e foi tirar fotos abarrancando a cow que está no Parque Moinhos de Vento - uma das sete do lugar. Chegando lá, diz ele que até o guarda civil riu deles, e nada fez para impedir o estupro zoofílico. Viu como na madrugada até os repressores são mais sociáveis? Quando artistas tentam se manifestar na Esquina Democrática, a polícia prende. Quando uma escritora e artista cênica tenta mostrar seu trabalho na Feira do Livro - maior evento de comércio a céu aberto da América - lá está a Brigada Militar agindo lindamente de novo. Espalhar obras de arte - ok, algumas bonitinhas - com objetivo unicamente comercial, patrocinadas por empresa privada, e quase todas voltadas a interesses privados, aí ninguém faz nada, até porque o jornal-monopólio do Rio Grande também tem sua vaquinha.

Enfim, curtam as madrugadas, virem noites sem estar ouvindo música em altíssimo volume, leia escutando apenas o gari que varre a tua rua passar a vassoura na calçada às 4 da manhã. O máximo que vai te interromper são alguns bêbados saindo do Beco, pra quem mora perto dele como eu.

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