sexta-feira, abril 9

síndrome.da.parasitopatia

Em uma pequena cidade, a rotina de todos é de conhecimento público. Sabe-se exatamente o horário em que
 o padre acorda
as crianças saem da escola
o motorista do carro de praça acende o palheiro.

Certa manhã, o padre não rezou a primeira missa. Estava acamado, pés inchados, febre, e um amarelo que conferia ao seu rosto um aspecto nada saudável. Sem maiores pesquisas - medicina no interior sempre tem um grande especialista, que decreta as causas de tudo - a culpa foi atribuída às pombas, abundantes por toda a cidade, mas principalmente no campanário da igreja.

Em pouco tempo, toda população - não chegava a um milhar de pessoas - passou a visitar o santo padre e oferecer doações a ele e à igreja, além de votos de elevada estima por sua melhora. Nem suas missas recebiam tanto público ou colaboração na passagem da caixinha.

Nem terminou a primeira semana de doença do pároco, e a nova mácula atingia toda a cidade. Cada um daqueles que viviam por lá tinha agora as faces aurificadas, gordos pés em chinelos esturricados, e todos termômetros atingiam temperaturas acima de 38°C.  A cidade, agora isolada pelas autoridades, via chegar doações mil. Clube, praça, campinho de futebol, tudo estava deserto, nem as senhoras fofoqueiras ocupavam suas janelas. O retratista, que à moda antiga fotografava cada cena familiar em volta da praça, também não era mais visto. A tristeza tomava conta do lugar.

Muitos, já pensando nas suas extremunções, procuraram o padre na casa paroquial. O pobre homem de batina já havia sido esquecido, frente a um surto nessas proporções. Lá, porém, tudo que encontraram foi um bilhete sobre a cama:
"São quase 30 anos de sacerdócio e pontualidade. Apenas não queria rezar a missa das 18h."
A cidade amanheceu sã.

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